Foi na hora do break entre uma seção e outra do último capítulo. Estava cansada de ficar sentada na mesma posição o dia inteiro, a semana inteira. Enquanto fazia alongamento, abri meu livro favorito do Pessoa. O livro me deu um presente: aqueles momentos quando lê-se um poema que já se tinha lido, mas nunca sentido. O livro é Ficções do Interlúdio. A página é a 133. A poesia, "Ode Marítima" e os versos são estes:
Ah, a frescura das manhãs em que se chega,
E a palidez das manhãs em que se parte,
Quando as nossas entranhas se arrepanham
E uma vaga sensação parecida com um medo
- O medo ancestral de se afastar e partir,
O misterioso receio ancestral à Chegada e ao Novo -
Encolhe-nos a pele e agonia-nos,
E todo o nosso corpo angustiado sente,
Como se fosse a nossa alma,
Uma inexplicável vontade de poder sentir isto doutra meneira:
Uma saudade a qualquer cousa,
Uma perturbação de afeições a que vaga pátria?
A que costa? a que navio? a que cais?
Que se adoece em nós o pensamento
E só fica um grande vácuo dentro de nós,
Uma oca saciedade de minutos marítimos,
E uma ansiedade vaga que seria tédio ou dor
Se soubesse como sê-lo...
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