Friday, December 05, 2008

Disbelieving

Ultimamente meus posts têm sido distantes, subjetivos e às vezes enigmáticos. É que ultimamente eu também estou assim.

Já há uns dois meses que a vida anda mais suspensa do que o normal. Uso esse termo, suspensa, pensando no conceito do Coleridge de suspension of disbelief, que significa a disponibilidade das pessoas em aceitarem naquilo que lêem ou vêem na ficção como verdade. Amo a idéia da suspension of disbelief: ela dá às pessoas o direito de serem enganadas deliberadamente e apesar da estranheza que essa afirmação pode causar, este é um direito muito válido e especialmente importante.

Eu escolhi, há pelo menos 2 anos, suspender a disbelief e aceitar uma vida nômade, com realidades mais breves, com menos planejamento a médio e longo prazo e com muito menos apego. Foi difícil no início, mas depois aprendi, tomei gosto pela coisa e agora tô achando difícil é largar isso pra lá. Vivendo em Portugal há quase um ano começo a sentir, em ondas às vezes fracas, às vezes fortes, a necessidade do desapego, da novidade, da incerteza. Não que eu não goste daqui, muito pelo contrário: Lisboa é uma cidade incrível pra se viver. E não que eu tenha me viciado me mudar, já que estar num mesmo lugar há mais de seis meses é muito bom; acho até que há uma linha que divide os 6 meses do resto: tudo tem um certo gosto até os 6 meses, mas quando ultrapassa essa linha imaginária do tempo a coisa fica diferente. Os amigos ficam mais próximos; a cidade revela mais segredos; tudo adquire uma certa cumplicidade que só sabe quem fica mais de seis meses.

A linha divisória dos 6 meses só perde em importância pra eterna divisão entre o 'should I stay or should I go'. Tenho vontade de ficar (os amigos, a cidade ainda a explorar, o viver e conviver Lisboeta que aos poucos me atinge) ao mesmo tempo que tenho vontade de ir (a novidade, os amigos por fazer, as cidades por conhecer, as línguas por falar). É como a divisão da Vianne, no filme Chocolat (2000), que além de delicioso de assistir, ainda faz pensar.

"The wind spoke to Vianne of towns yet to be visited,
friends in need yet to be discovered,
battles yet to be fought...

by someone else, next time."


Esse final sempre ficou na minha cabeça. Um mantra, muitas vezes dito sem pensar, mas internalizado, como um conselho. A mim não é o vento que inspira, mas o coração; quero ir por qualquer razão que desconheço, mas que seguramente vem de dentro pra fora e não o contrário. What drives me é inexplicável, forte e presente; é quase como se eu estivesse procurando algo que eu um dia vou mesmo encontrar.

Continuo suspensa. Ainda não é agora que vou mandar calar o vento.

***

No comments: